Na Coreia do Sul, os ‘streamers’ fazem fortuna
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Kim Min-Kyo, livestreamer sul-coreano, no dia 8 de fevereiro de 2021, em sua casa em Anyand, ao sul de Seul. (Foto: Divulgação) |
Trancado em um depósito
acima do apartamento de sua mãe em
Seul, Kim Min-Kyo joga online por até 15 horas
por dia e faz fortuna graças aos
milhares de fãs que acompanham suas façanhas ao vivo.
Aos 24 anos, suas proezas, que ele comenta com humor, permitem
que ganhe cerca de US$ 50.000 por mês, mas
seu estilo de vida permanece o mesmo.
“Não gosto
muito de carros ou de gastar muito dinheiro”, explica Kim, que come, dorme,
toma banho e trabalha em seu cubículo. “É minha mãe quem administra meu dinheiro”, acrescenta.
Os “streamers”, ou seja, pessoas que transmitem conteúdo ao vivo, são
chamados de “Broadcast
Jockeys” ou BJs na Coreia do Sul. Eles compartilham por horas suas discussões, seus jogos, sua música e até mesmo
suas refeições e seu tempo de sono.
Particularmente populares entre adolescentes e jovens na casa
dos vinte anos, que os preferem a estrelas do mainstream, um pequeno número ganha até 100.000
dólares por mês
transmitindo ao vivo na plataforma sul-coreana AfreecaTV e postando conteúdos no Youtube.
Atrair fãs
Kim, que transmite suas partidas de “League of Legends”
enquanto comenta, reconhece que “às vezes
tem que fazer algo absurdo para conseguir fãs”.
É graças a eles que ele ganha a vida com doações, colocação de produtos – às vezes
ele bebe energéticos sul-coreanos – e anúncios no YouTube, onde tem mais de 400.000
assinantes.
O “livestreaming”, que não é regulamentado, geralmente provoca polêmicas. É
particularmente criticado por seus conteúdos às vezes ousados em uma sociedade sul-coreana
que permanece profundamente conservadora, e alguns “streamers” foram criticados
por comentários misóginos ou tendências à violência.
A qualquer hora do dia é fácil encontrar, por exemplo, na plataforma da
AfreecaTV mulheres seminuas prontas para “fazer uma dança sexy” ou
enviar um vídeo vestindo roupas
ousadas por dinheiro.
A epidemia de coronavírus só favoreceu o fenômeno.
Enquanto os moradores foram instados a ficar em casa na
primavera passada para conter a primeira onda da covid-19, o tempo gasto
assistindo a vídeos em smartphones
disparou, e o YouTube diz que registrou picos enormes de audiência no ano passado em todo o planeta e
especialmente na Coreia do Sul.
O modelo de negócios da
AfreecaTV é vender aos espectadores “starballoons”, o equivalente a
pontos que podem ser comprados por 110 won (US$ 0,7) cada.
Eles podem então oferecê-los aos seus “streamers” favoritos, que os convertem em
dinheiro, com a plataforma recebendo uma porcentagem no processo.
As doações feitas
nesta plataforma aumentaram mais de 20%, atingindo 41,5 bilhões de won (30 milhões de euros) no terceiro trimestre de 2020.
“Mesmo que a pandemia de covid seja lamentável, seria uma mentira dizer que ela não ajudou o desenvolvimento de BJs”, admitiu Joshua Ahn, chefe da
produtora Starfish Entertainment.
O empresário de 44
anos dirige dezenas de transmissões ao
vivo famosas e produz programas de variedades para algumas das maiores estações de televisão do país.
Embora apenas uma pequena fração ganhe
uma fortuna, para Ahn, as estrelas que já ganhavam
dezenas de milhares de dólares por
mês viram suas receitas “dobrar ou até triplicar” durante
a pandemia.
Frequentemente na vanguarda da tecnologia, a Coreia do Sul viu
a receita de publicidade em telefones móveis
triplicar entre 2015 e 2019, para 4,56 trilhões de
wons, de acordo com os reguladores.
Agora, alguns streamers aparecem na televisão, enquanto personalidades, analistas
financeiros e até políticos se voltam para esse novo modo de
transmissão para melhorar sua imagem.
Mas, este fenômeno
parece conhecer cada vez mais derivas, com conteúdos
sexuais e violentos.
Para Hojin Song, pesquisador da California State University
Monterey Bay, isso ocorre porque “esses BJs estão
tentando chamar mais atenção”.
“Quanto mais público
puderam atrair, mais chances têm de
ganhar dinheiro”, lembra.
(*) Com informações da Revista
Monet.
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